Treinamento Vivencial x Palestras

Sua empresa está preparada para surpreender e comprometer seus colaboradores?

Qual a diferença e o diferencial? Qual a melhor opção? O que realmente esperar?

Atualmente o mundo corporativo procura alternativas para crescer, desenvolver e inovar. Dentre as alternativas encontradas, estão palestras e treinamentos, em seus diversos formatos. Cabe ao empresário ou aos tomadores de decisão identificar qual é a melhor alternativa para sua corporação.

Dizem que “de médico e louco todo mundo tem um pouco”. E acrescento que de ignorância (1) também. Todos somos ignorantes em algum assunto. Existem assuntos que não domino, então posso dizer que sou ignorante em algo. Já dizia Amos Alcott: “Ignorar a própria ignorância é a doença dos ignorantes”. Apesar de forte, esta frase é verdadeira.

Algum tempo atrás, estava almoçando com dois empresários, um deles facilitador de treinamentos e palestrante, e, quando falávamos de treinamento vivencial, ambos alegaram veementemente que não acreditam nessa modalidade, o que para mim foi de grande espanto, pois esse facilitador e palestrante havia feito um treinamento vivencial na semana anterior e estava vibrando com os resultados alcançados. Afirmou ainda que a melhor modalidade são palestras – até pode ser, dependendo do ponto de vista, dos participantes, dos objetivos que desejam alcançar e dos resultados esperados a longo prazo.

Palestras, em minha opinião, são formatos em que alguém transmite informação em mão única. Se o público desse evento for grande, pode ser uma boa alternativa, pois, se houver interatividade, não haverá tempo de transmitir tantas informações. Por outro lado, pode se tornar sonolenta e, pior ainda, não trazer os resultados esperados. Ao final deste artigo apresento uma pesquisa realizada pela Motorola University (EUA), segundo a qual o resultado efetivo dessa modalidade de transmissão de conteúdo é de apenas 5% de aproveitamento.

Do outro lado, encontra-se o treinamento vivencial, uma modalidade de mão dupla, que, ao contrário dos métodos de treinamentos informativos, no qual faz com que os participantes envolvam-se ativamente, há uma integração e/ou mudança de pensamentos, sentimentos, atitudes e comportamentos por parte de indivíduos, grupos e/ou culturas organizacionais. Essa modalidade pode ser denominada de “aprender fazendo”. Aqui, o foco principal não é apenas mera transferência de fatos e números, mas o desenvolvimento de habilidades nos participantes, para a prática no dia a dia corporativo. A mesma pesquisa mencionada acima diz que esta categoria de treinamento faz com que os participantes consigam em média 75% de absorção de conteúdo.

Vamos entender melhor e exemplificar essa metodologia. Vivencial é o mesmo que vivenciar, praticar ou experimentável e, nesse caso, significa vivenciar a informação dada durante o treinamento. Quando se fala em treinamento vivencial, muitos profissionais, empresários e tomadores de decisão entendem equivocadamente que esse treinamento trata única e exclusivamente de subir em árvores, cair de costas ou ainda montar “barcos” para travessias em rios. Existem outras formas. Seguem dois exemplos: um time de qualquer esporte pratica diariamente jogadas, ou, no jargão esportivo, “ensaiam jogadas”, que podem surpreender seus adversários. Se a teoria fosse o suficiente bastaria colocar todos os esportistas numa sala de aula e lhes dizer como fazer, que um deve partir do ponto “A”, outro deve ficar no ponto “B” e o terceiro fazer o gol, ponto, etc. Então para que praticar e ensaiar novas jogadas? Veja também os alunos das escolas de dança. Os alunos sentem a necessidade de praticar arduamente até aprender corretamente, e isso é explorado pelos instrutores de dança. É praticando, ou seja, vivenciando que se aprende a fazer. Lembra-se do palestrante que mencionei no início? Pois bem, ele foi fazer um treinamento para atendentes de restaurante e, durante o treinamento, levou comidas falsas, réplicas que de tão perfeitas pareciam reais, para que os participantes simulassem o atendimento a clientes com as comidas, praticando situações reais, e não ficassem apenas na teoria. Essa também é uma forma de fazer os participantes vivenciarem as situações do cotidiano, descobrirem o que pode ser melhorado, ou seja, aprenderem fazendo. É uma metodologia de treinamento vivencial. No mundo corporativo, podemos dizer que isso pode fazer e ser a diferença frente à concorrência.

Existem outros programas que utilizam a metodologia de treinamento vivencial nas grandes corporações que se destacam no mercado e são aplicados no dia a dia, entre eles o “On the job”, os simuladores e aplicativos de situações reais, como, por exemplo, os simuladores de voos da NASA e de empresas aéreas, o Role Playing e tantos outros.

O treinamento vivencial é uma metodologia e não um programa. Temos de compreender isso para entender sua eficácia. De uma forma simplista, ele tem como característica o mecanismo de ação e reação, ou seja, é transmitida uma informação, aplicada na prática, e depois o grupo realiza uma reflexão para ajustar as informações, comportamentos e perceber o que foi aprendido. É aprender com a mão na massa, literalmente. Podemos fazer uma analogia com o PDCA, mas sobre isso falaremos em outra oportunidade.

O público de treinamentos empresariais geralmente é formado por profissionais, ou seja, adultos. Deve-se considerar a andragogia e lembrar que esses profissionais já possuem, ao longo de sua vida, seja pessoal ou profissional, uma série de informações e experiências que não podem ser ignoradas. O envolvimento e o comprometimento, que são mais aflorados no treinamento vivencial, fazem grande diferença. A capacidade de aprender de um adulto é mais eficaz quando a pessoa na totalidade está envolvida – o pensamento, o sentimento e os domínios comportamentais. A informação que é sintetizada com emoções, valores e ações produz uma aprendizagem mais duradoura do que a mera memorização de fatos.

Costumo dizer que a prestação de serviços é uma área que efetivamente estimula esses sentimentos, e, um bom exemplo pode ser visto quando alguém é mal atendido em um estabelecimento comercial, o que é uma experiência ruim e, em geral, este se afasta, chegando a procurar outros estabelecimentos, mesmo que sejam mais distantes. O oposto também acontece: quando somos bem atendidos acabamos nos tornando clientes fiéis. Em ambos os casos, divulgamos entre nossos conhecidos nossas experiências com esse ou aquele estabelecimento. Essas nada mais são do que vivências. Se assim funciona o comportamento humano, então posso afirmar que o treinamento vivencial é uma ótima alternativa para o mundo empresarial. Basta definir quais metas a serem alcançadas e em que prazo. Cabe ao empresário ou tomador de decisão escolher qual o formato que lhe trará melhores resultados. E, ao consultor, orientar seus clientes.

Pesquisa realizada pela Motorola University

(1) Ignorância, dentre as definições dadas pelo Dicionário Aurélio, é a “Falta de saber” (alguma coisa). “Estado de quem ignora ou desconhece alguma coisa”.

Autor: Sergio Eduardo Cunha, consultor, palestrante e mentor. Palestrante citado como referência em faculdades pelo Brasil. Executivo da MindWay Inteligência Empresarial®.

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